O que e o Humor ?

O Que é o humor?

A palavra é latina; humor, humoris, é líquido, fluido, humores do corpo humano como o sangue, a linfa, a bílis, enfim as seivas da vida. Portanto sua origem é médica, revelada pelos gregos cujos traços principais foram dados por Hipócrates, que estabeleceu relações entre os temperamentos e os humores, líquidos corporais. Segundo esta fisiologia, que vai até o fim da Idade Média, os humores do corpo humano influiriam no caráter dos indivíduos, no seu temperamento. Foi só no século XVII, que a palavra começou a ter o significado atual. Em 1906 Louis Cazamian, um jovem professor de literatura inglesa escreveu um artigo cujo título era: Porque não podemos definir o humor. Título paradoxal e bem humorado, pois em seguida tenta definir o humor desde seu mecanismo estético. Em 1950 o mesmo Cazamian escreveu um livro sobre o desenvolvimento do humor inglês, mas renuncia a definir o humor. A renúncia de definição revela a dificuldade, mas Luigi Pirandello num livro sobre o humor escreve "o humorismo consiste no sentimento do contrário, provocado pela especial atividade de reflexão que não se esconde, como geralmente na arte, uma forma de sentimento, mas o seu contrário, mesmo seguindo passo a passo o sentimento como a sombra segue o corpo. Para o humorista, segue Pirandello, as causas na vida, não são nunca tão lógicas, tão ordenadas, como nas nossas obras de arte comuns. A ordem? A coerência? Mas se nós temos no interior quatro, cinco almas em luta entre si: a alma instintiva, a alma moral, a alma afetiva, a alma social? E conforme domine esta ou aquela compõe-se a nossa consciência, e nós consideramos válida e sincera aquela interpretação fictícia de nós mesmos, do nosso ser interior que desconhecemos, porque não se manifesta nunca inteiro, mas ora de um modo ora de outro como queiram os casos da vida. O humorista decompõe o caráter em seus elementos; mostra as suas incongruências". O sentimento do contrário tão bem descrito por Pirandello é uma das essências do humor, que permite relativizar tudo e quebra toda seriedade teórica e prática seja do que for.

O humor não reconhece heróis; diverte-se em decompor, mesmo quando não seja um divertimento agradável. Parte do sentido em busca do nonsense, ao contrário da interpretação que parte do nonsense, para buscar um sentido. É um ato de desdobramento no ato mesmo da concepção; por isso, todo sentimento, todo impulso, todo pensamento que surge no humorista, se desdobra em seguida no seu contrário: todo sim em um não que assume o valor de sim. O humor, como diz Jankélévitch, " caminha sem alvo sobre a terra, não tem tese, não advoga, vai sempre mais além, está sempre a caminho; mesmo no fundo da infelicidade extrema e da vergonha, o gracioso arabesco, o bizarro, faz emergir o sorriso do deslumbramento. A ironia é a arma dos fortes, enquanto o humor é a única arma dos fracos, pois a humildade humorística permite ultrapassar a humilhação. O humor é a arma dos desarmados e não triunfa pois o humor goza a si mesmo. O humorista traz à tona a dúvida e a precariedade, sempre busca a liberdade de brincar com o poder de qualquer ordem. O humor não leva a sério nada, nem a si mesmo".

CÔMICO X HUMOR

O cômico como fenômeno antropológico responde ao instinto do jogo, ao gosto do homem pela brincadeira e pelo riso, a sua faculdade de perceber aspectos insólitos e ridículos da realidade física e social. O cômico libera, já o humor é grandioso e edificante. O cômico expõe uma contradição engraçada e o humor cria uma reflexão, daí o seu riso filosófico. Para Freud o que tem de grandioso no humor provém do narcisismo e da invulnerabilidade vitoriosa do eu. Já a comédia vem do grego Komedia, onde komos era o desfile e a canção ritual em homenagem a Dionísio.